segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O2 ▬ Os conflitos internos.


Abracei-a fortemente e despejei minhas lágrimas até conseguir me controlar e contar-lhe a história, não antes de sentarmos em um dos bancos daquela rua, um banco rústico de madeira velha e desgastada, dando um ar de antiguidade àquele lugar.

- Eu não sei ao certo o porquê de eu estar assim, Bree. Estou aqui em Seattle com meus pais, você sabe que eles adoram viagens, principalmente vir para essa cidade. E isso tudo começou nessa mesma noite.

Eu parecia estar ansiosa para contar-lhe a história. Não consegui guardá-la somente para mim, precisava me abrir com minha melhor amiga, em que confiava. Respirei fundo e passei a mão em meu pescoço, um costume que eu tinha desde criança.

- Eu estava dormindo no meu quarto de hotel até que comecei a sonhar. Foi muito estranho, muito mesmo. Na verdade, foram dois sonhos, um deles aconteceu há uns minutos atrás. Sonhei com uma criatura, não consegui ver o que era, mas poderia ser um homem, era muito parecida com um. Enfim, no primeiro sonho, eu estava sozinha num beco muito escuro, e a tal coisa barrou meu caminho, mas quando ele começou a se aproximar de mim – provavelmente para me matar – eu acordei. No segundo sonho, eu observava uma mulher brincando com seu filho, ao qual eu havia visto pouco antes, e ele matou o garotinho e sua mãe. Como? Eu não sei lhe dizer. Nunca consigo ficar até o fim para ver o que acontece em seguida.

Quando havia acabado de narrar meus dois sonhos, percebi que estava com lágrimas caindo novamente por meu rosto.

- O que será isso, Bree? Ajude-me, estou tão assustada.

E realmente eu estava assustada. Estava certa de que eu só poderia estar tendo um surto psicótico. Não era normal uma pessoa ficar tão apavorada por causa de um simples sonho. Não, aquele sonho não era simples. Parecia ser tão real. Eu podia ver claramente cada detalhe dos lugares, das feições da mãe e de seu filho. Podia até sentir o aroma que a criatura liberava.

Perdendo-me em meus pensamentos, percebi um leve movimento na rua. Já havia anoitecido! O dia passou tão rápido, nem notei. A rua estava praticamente deserta, a não ser pelo garoto, aparentemente adolescente, que eu acabara de avistar encostado numa das paredes de um antigo edifício, com suas paredes descascadas e sua pintura já sem cor.

Ele cumprimentou-me cordialmente com um ‘Olá’. Respondi da mesma maneira, cordialmente. Mas ele não teve chance de continuar sua conversa, uma outra pessoa – dessa vez um homem encapuzado, onde não pude ver seu rosto – aproximava-se de nós duas. Chegando cada vez mais perto, ele retirou seu capuz e encaminhou-se ao lado de Bree para sussurrar ao seu ouvido. Não queria, mas não pude evitar ouvir o que o mesmo disse, já que eu estava muito próxima de minha amiga.

- Se quiser continuar viva, não faça escândalo.

Após suas palavras serem proferidas, fiquei um pouco alerta. Eu reconhecia aquela voz, mas não lembrava de onde. E as palavras que saíram de sua boa, o que ele queria dizer com aquilo? Logo, postou-se ao lado dela e sorriu para mim, deixando sua face à mostra. Retribuí o sorriso, mas não por muito tempo, até fechar minha feição. Não podia ser, eu sabia quem ele era. Nunca o vira realmente, mas sim, nos meus sonhos, nos meus últimos dois sonhos. O reconheci por seu olhar, seu olhos grandes e intensos, que me miraram na hora de minha morte que não chegou a ser executada. Aquele sorriso, exatamente o mesmo que eu havia recordado, seus dentes branquíssimos e perfeitamente alinhados. E finalmente me lembrei de sua voz, a mesma que me disse ‘acalme-se, estou só fazendo o necessário’. Não! Aquilo não era necessário. Não era necessário matar pessoas inocentes, crianças indefesas!

Com medo, não pronunciei em volta alta a minha revolta interna, não me parecia coerente numa hora dessas. E se eu estivesse errada? Se ele fosse só mais um amigo de Bree? Ou talvez até um desconhecido que veio flertar conosco? Eram hipóteses a serem levadas em conta.

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