sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O1 ▬ Os sonhos.



Eu estava caminhando por um beco totalmente escuro, deviam ser três horas da manhã aproximadamente, pela posição da Lua. Eu olhava freneticamente para os lados, fugindo de algo que eu não sabia o que era, mas sabia que era perigoso. Mortal – essa palavra veio na minha mente enquanto eu corria para fora daquele beco. Mas não fui bem sucedida, quando estava quase na rua principal, um vulto passa velozmente ao meu lado e pára à minha frente, bloqueando meu caminho. Parecia ser um homem, mas estava com o rosto completamente encoberto por um longo capuz preto, e eu não conseguia identificá-lo. Ele respirava calmamente, contrastando com minha respiração alta e ofegante. Tentei passar por ele, mas era impossível, ele era rápido demais. Ele levou sua mão ao meu ombro e começou a se aproximar. Queria me afastar, mas suas firmes mãos não me deixavam e ele tocou seus lábios nos meus. Afastou-se de mim e abriu um leve sorriso, deixando a mostra seus dentes perfeitamente brancos. Sua feição de repente transformou-se de agradável para perversa e ele aproximou-se novamente de mim, dessa vez mais rápido e...

Acordei dando um grito e levantando em um pulo da cama. Eu havia transpirado bastante durante esse pesadelo. Agradeci por ter ficado inacabado, mas fiquei um pouco curiosa para saber o que aconteceria em seguida. Decidi tentar esquecer aquelas cenas e fui tomar um banho para esfriar um pouco a cabeça. Durante o banho ainda fiquei pensando no pesadelo e tentando imaginar diferentes formas de como teria acabado, algumas felizes, outras nem tanto.

Após terminar o banho, vesti algo confortável, como sempre, e saí de casa a fim de dar uma volta de carro pela cidade onde eu estava passando o final de semana, Seattle. Meus pais sempre iam uma vez por mês para aquela cidade. Não sei o motivo, mas eles adoravam lá e, de certa forma, eu também. Enfim, aquela cidade fazia eu me distanciar do meu mundo real, de Chicago, onde eu era uma garota normal. Inteligente, mas não nerd, sempre rodeada de amigos, mas não popular. Como eu já disse, era normal. Entrei no meu carro, um simples modelo popular, e fui ao centro da cidade caminhar um pouco. Olhei a muitas vitrines que chamavam a atenção e comprei algumas coisas de que eu estava precisando. Tantas distrações, mas o sonho - pesadelo – ainda continuava em minha cabeça. Volta e meia, enquanto eu comprava algo ou observava as vitrines, vinham ‘flashbacks’ do beco, ás vezes algumas cenas novas, mas geralmente não muito interessantes. Entrei numa loja de presentes e achei algo que seria perfeito para dar a uma das minhas amigas, a que mais se identificava comigo, a Bree. Não era nada muito caro, mas era delicado como ela, e também muito lindo. Era uma caixinha de jóias, de madeira maciça e toda trabalhada. Achei-a linda.

- Embrulhar para presente? – Perguntou-me a balconista.

- Sim, num papel bem bonito, por favor.

Após a caixinha ter sido embrulhada, voltei para meu carro. Eu havia ficado um pouco cansada de tanto caminhar naquele dia e já estava entardecendo. Fiquei a observar as pessoas caminharem, até que uma mãe, brincando com seu filho, prendeu minha atenção. Ela estava tão amorosa, parecendo tão protetora, tão... Então peguei no sono, e o sonho voltou novamente, mas dessa vez diferente, muito mais resumido. E junto vinha a cena da mãe que eu observava.

O homem chegava perto de mim e mordia levemente meu pescoço, até que senti seus dentes perfurarem minha pele e sangue começar a escorrer pelas fissuras. De repente, a cena mudou, eram a mãe e sua criança brincando juntas, abraçadas. Mas não estavam naquela mesma rua onde eu as observava, estava num quarto grande e ensolarado, onde logo anoiteceu e as duas adormeceram juntas. Cheguei mais perto e pude observar os traços do rosto da mãe. Eram bonitos, uma beleza comum, cabelos castanhos ondulados, com algumas mechas em seu rosto de pele cor de oliva, sua boca com um traço fino estava relaxada em seu sono leve. A criança, um menino realmente pequeno, uns dois anos eu daria, com um rostinho angelical, dormia profundamente nos braços de sua mãe. Até que todo o cenário mudou repentinamente, como em um sonho – era um sonho, ou melhor, estava se tornando mais um pesadelo. A mulher estava com a expressão extremamente aterrorizada enquanto olhava para um ponto fixo ao chão. Segui seu olhar e me deparei com o garotinho, tão lindo, jogado ao chão, durinho como uma pedra e sua pele um pouco enrugada. Cheguei mais perto e toquei sua face, mas ele não respirava. Ele estava morto. Morto! Lágrimas começaram a escorrer de meus olhos naquele instante, até eu ouvir um grito. Era ela, a mãe. Algo ou alguém estava em cima dela, como se a estivesse beijando. Mas eu sabia que não era isso. Aquilo estava fazendo o mesmo que faria comigo no meu sonho passado, ia matá-la assim como fizera com seu filho. Eu não poderia suportar, não poderia ver os dois mortos por aquela criatura, que eu não sabia o que era. Tentei me mexer para defender a mãe enfraquecida, mas eu não conseguia, estava imóvel. Droga! Tenho que defendê-la. Consegui correr e dei um soco na criatura, mas não adiantou...

Acordei desnorteada novamente, dando um soco no próprio volante do meu carro, acionando a buzina. Olhei para todos os lados procurando a mesma mãe com seu filhinho, mas nada. Ela não estava ali. Será que eu estava imaginando coisas? Será que tudo isso, os pesadelos, as compras, tudo não era apenas um sonho? Não, não era. Eu estava lúcida demais para ser um simples sonho. Então só podia estar enlouquecendo. Não eram normais meus sonhos.

Fui caminhar um pouco para esfriar a cabeça. As lágrimas do sonho ainda escorriam por meus olhos e as pessoas por que eu passava me olhavam com estranheza. Elas não podem ficar sem se meter na vida dos outros? Metidas! Andava cada vez mais rápido, tentando fugir daqueles olhares, até que esbarrei em alguém. Eu já ia começar a xingar, mas quando olhei para seu rosto, percebi quem era. Era minha amiga, Bree. Que coincidência encontrá-la em Seattle.

- Bree, você por aqui? – Eu disse enxugando minhas lágrimas, não queria que ela me encontrasse naquele estado.

- Sim, mas o que aconteceu com você Summer? – Ela colocou uma de suas mãos no meu rosto.

- Nada, é uma história muito estranha.

Meus olhos encheram-se de lágrimas novamente ao lembrar da cena do garotinho morto, jogado ao chão. Não me contive e abracei Bree, eu estava precisando de colo naquele momento. Eu estava atordoada, indecisa, com medo, confusa. Muitos sentimentos enrolados em minha cabeça. O que eu faria? Será que esse sonho que vem se repetindo quer dizer algo? Acho que não.

0 comentários:

 
Blogger design by suckmylolly.com